TER DE e TER QUE
Devemos dizer "Ele tem de sair" ou "Ele tem que sair"?
Emprego de “TER DE” e “TER QUE”
Mais uma lição bastante interessante sobre o emprego de duas expressões que, não raro, provocam dúvidas. Embora no dia a dia sejam usadas de forma indistinta, podemos, ainda assim, traçar algumas orientações. Vejamos:
1) Emprega-se TER DE (verbo + preposição), seguido de outro verbo no infinitivo, quando se deseja denotar “fato infalível, necessário, obrigatório ou jussivo (imperativo)”. Observe os exemplos:
a) O Brasil tem de ser um país menos desigual. (Equivale a è “O Brasil tem a obrigação de ser um país...)
b) Todos tiveram de sair por causa do fogo que já atingia os últimos andares do prédio.
c) “... para se conhecerem os amigos, tinham os homens de morrer primeiro e daí a algum tempo ressuscitar...” (Pe. Antonio Vieira).
d) “O Congresso ainda não se dissolveu. Tem de reunir-se ainda.” (Rui Barbosa)
2) Emprega-se, por outro lado, TER QUE, seguido de um verbo no infinitivo, quando se deseja indicar simplesmente “algo para fazer”, “algo que ainda não foi feito”. Nesse sentido, transmite-se tão somente “mera informação” ou uma “ação facultativa”. Nesse caso, o “QUE” funcionará como uma preposição equivalente à preposição DE. Alguns autores, entretanto, chegam a classificar esse “QUE” como uma conjunção integrante ou mesmo como um pronome relativo. Vejamos:
a) “Esses não têm que envenenar a alma de seus filhos com as misérias domésticas do cativeiro (...); não têm que dar, nas suas escolas, em vez da educação cívica, o ensino da opressão perpetuada, não têm que sentir a organização de sua pátria assentada na denegação eterna da liberdade a uma parte indefesa do gênero humano.”
b) “É uma mania de seu amigo, Senhor Ricardo, esta de só querer cousas nacionais, e a gente tem que ingerir cada droga, chi!” (Lima Barreto)
c) “— O senhor... O senhor só tem que me agradecer uma coisa: é a minha paciência.” (José de Alencar)
Observações:
a) Como já dissemos, no dia a dia, essas expressões são usadas quase indistintamente, uma vez que nem sempre é fácil se fazer a distinção entre o que é “obrigação” do que é “mera informação ou ação facultativa”. De acordo com a professora Maria Helena de Moura Neves, a expressão “TER QUE” é hoje mais usual do que TER DE. Esta última é empregada com mais frequência, segunda a professora, na linguagem literária.
b) Alguns autores preconizam que, na expressão TER QUE, o “que” funciona como pronome relativo sem antecedente explícito. Para os que advogam essa morfologia do “que” como pronome relativo, deveríamos analisar o período da seguinte maneira:
* Não posso sair hoje, pois tenho que estudar. è Equivale a “... tenho (algo) que estudar”.
Fonte: Nova gramática da língua portuguesa para concursos - 10a edição.