Distinção entre NEM UM e NENHUM

Emprego de "nem um" e "nenhum"

Distinção entre “nenhum” e “nem um”

Eis uma dúvida frequente entre os operadores da nossa língua. Fique atento, pois ela apresenta vários detalhes.

O vocábulo “nenhum” (junção de “nem” mais “um”) é um pronome indefinido e opõe-se a “algum”. Já na construção “nem um”, o vocábulo “um” é um numeral (seus equivalentes são, portanto, “dois, três, quatro etc.”).

Lição bastante proveitosa nos deixou o ilustre gramático Napoleão Mendes de Almeida: “Nenhum provém da junção de ‘nem + um’, havendo entre aquela forma sintética (nenhum) e esta analítica (nem um) diferença de energia de expressão; a forma analítica é mais forte”. Seguindo a lição do mestre, em muitos casos, pode-se usar tanto “nem um” quanto “nenhum” – o que vai diferir é a ênfase que se deseja conferir ao enunciado.

* Ao partir, João dos Anjos não deixou nenhum bem. (= ... não deixou bem algum.)

* Ao partir, João dos Anjos não deixou nem um bem. (= ... não deixou nem mesmo um bem.)

É preciso sinalizar, entretanto, que a forma analítica “nem um” individualiza o ser, define por unidade e apresenta frequentemente o sentido de “nem mesmo um, nem sequer um”. Observe agora alguns exemplos extraídos de escritores de renome que empregaram a expressão “nem um”.

* “Pois olhe que não é uma criança! Mas nem um cabelo branco, nem um, nem um só!” (Eça de Queiroz)

* “...mas tudo se passava lá dentro, não veio nem um suspiro à flor dos lábios.” (A. Garrett)

* “Calma. A noite caiu. Nem um pássaro voa.” (Olavo Bilac)

* “Rápido e violento devia ter sido o cometimento, numerosos os cavaleiros inimigos; porque nem um dos atalaias pudera escapar.” (A. Herculano)

Veja agora outros exemplos com a utilização de “nenhum”.

* “Nenhum milagre de engenharia lhos substituirá com vantagem.” (Euclides da Cunha)

* “Anhangá turbou sem dúvida o sono de Irapuã, que o trouxe perdido ao bosque da jurema, onde nenhum guerreiro penetra sem a vontade de Araquém.” (José de Alencar)

* “Para a cidade não trouxeram nenhum escravo. Venderam a maioria e os de estimação libertaram.” (Lima Barreto)

* “Seguramente o alienista podia estar em erro, mas nenhum interesse alheio à ciência o instigava.” (Machado de Assis)

* “Nenhum homem, por exemplo, de mais títulos a interpretar as opiniões desse partido, nenhum mais genuinamente representativo das suas disposições do que o Sr. Silveira Martins.” (Rui Barbosa)

Vejamos agora alguns valores que o indefinido “nenhum(a)” pode adquirir em uma oração.

* Distribuiu-se o convite para muitos funcionários, mas nenhum foi à confraternização.

                                                                                        sentido de “ninguém”
 
* É uma pessoa de nenhuma importância.
                                sentido de “nulo, inexistente”
 
* “O cavalo dele, melhor que nenhum outro, ganhou a corrida.” (Aurélio)
                                            sentido de “qualquer”
 
Fonte: Nova gramática da língua portuguesa para concursos - 10a edição.
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