Relações de causa e consequência

Neste artigo, explico uma parte das chamadas relações de causa e efeito que tanto caem em provas

Olá, amigos…

            Espero que continuem dispostos a estudar. Aqui em Recife tenho encontrado, em muitas turmas, muito candidato “fogo de palha” ou “sol de inverno”. Pra quem não conhece, as expressões denotam aquelas pessoas de entusiasmo efêmero. Muitos são os alunos que iniciam o curso; poucos são os que conseguem terminá-lo.

             Vamos lá, gente!! Sei que cada um possui seus motivos – trabalho, dificuldade financeira, filhos, problemas familiares etc, etc, etc –, mas a vitória é daqueles que persistem. Não lembro direito se foi o Charles Chaplin o autor do pensamento, mas “é transpondo obstáculos – pedras, quedas d’água – que o rio chega ao mar”.

            Portanto, prossigamos!! Não desistamos!! Lutemos!! A vitória, eu creio, é dos que persistem.

            Hoje, resolvi falar um pouco sobre um assunto bastante frequente nas provas de concursos públicos: as relações de causa e efeito. Ah, não sei se vocês viram, mas a prova do TRF da 2ª região trouxe uma questão que abordava as relações de causa e efeito. Resolvi-a em várias turmas on-line e recebi várias “reclamações” sobre as benditas “relações de causa e efeito / consequência”. Por isso, resolvi abordar em um artigo analítico – sugiro que você o leia aos poucos, paulatinamente, não quero cansá-lo – as relações de causa e efeito.

            Em primeiro plano, é fundamental dizer um fato: boa parte da dificuldade encontrada por aqueles que se “embicam” com as relações de causa e efeito reside no fato de que, muitas vezes, quer-se ver na estrutura analisada algo que indique com clareza a existência das “tais” relações, como, por exemplo, a presença de conectivos causais do tipo “já que, visto que, por causa de etc”. Nem sempre, porém, eles aparecem – e é aí que o “bicho pega”. Por isso, sugiro que, se você é daqueles que só enxergam uma relação de causa e consequência quando há a presença de conectivos, procure a partir de agora mudar um pouco sua percepção a esse respeito.

            Primeiro, convém mencionar que as relações de causa e efeito existem nos diversos campos do conhecimento. Não sei se o amigo lembra os ensinamentos sobre Física, mas a terceira Lei de Newton nada mais é do que uma grande relação de causa e efeito: “A toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade e sentido contrário”. No direito, a causalidade é a relação factual entre o agente (ou sujeito ativo, ou autor) e o resultado danoso (infração de direito, causação de prejuízo), também chamada de nexo causal – em outras palavras, temos uma relação de causa e efeito. Na Filosofia, afirma Espinosa que o conhecimento verdadeiro é aquele que nos diz como uma realidade foi produzida, isto é, o conhecimento verdadeiro é o que alcança a gênese necessária de uma realidade. Leibniz estabelece o chamado principio da Razão Suficiente, segundo o qual nada existe que não tenha uma causa e que não possa ser conhecida, ou, como ficou conhecido: "Nihil sine ratione", nada é sem causa. Traduzindo: tudo possui uma causa e o verdadeiro conhecimento é aquele que busca conhecer a causa da essência. Há uma frase no Cristianismo que diz: “O salário do pecado é a morte”. Percebeu a relação de causa e efeito? Resumo da ópera: para onde quer que viremos sempre haverá relações de causa e efeito. Logo, não há como delas fugirmos. Entendamo-las, portanto!

            Aí, você retruca:

            - Beleza, Rodrigo!! Mas, e daí? Como posso visualizar as relações de causa e efeito nas provas? Por onde eu começo?

           Vamos lá, então...

            Há várias formas de se encontrarem e de se perceberem as relações de causa e efeito nos textos. Elas podem ser promovidas por:

1º) Conjunções subordinadas causais: porque, já que, visto que, uma vez que, visto como, como (=já que, visto que), porquanto, dado que, por isso que, que (= porque), pois etc.

Observe os períodos abaixo – todos expressam relações de causa e efeito:

a) Como não havia água suficiente para o grupo, deixaram o acampamento logo cedo e partiram para a cidade. 

                            causa                                     

b) Ainda não sabia se entregaria o relatório, já que discordava veementemente dele.                                                                                                                          

                                                                                                        causa

c) Porém, o caso daquele povoado era sui-generis porquanto não possuía governo instituído.

                                                                                                                        causa

d) Não é porque o TCU disse que havia superfaturamento que eu iria demiti-lo, afirmou o Ministro.

                        causa

e) Dado que o governo pouco tem feito para melhorar a educação neste país, compreendemos que os lastimáveis índices de miséria e concentração de renda ainda perdurarão por muito tempo.

f) Incipiente que era na arte de navegar, sempre saía acompanhado de um bom instrutor.

              causa

            E aí, percebeu o uso dos conectivos causais? Viu como eles nos ajudam a identificar facilmente uma estrutura em que há relação de causa e efeito? Sugiro que você aprofunde o conhecimento sobre os articuladores que promovem a “causa”.

Importante!!! Não confunda a oração causal ou a oração consecutiva com a relação de causa e efeito. A relação é perceptível com a análise das orações envolvidas no período. A oração causal é tão-somente a oração que, introduzida por uma conjunção subordinada causal, contém a causa dentro de uma relação de causa e efeito, assim como a oração consecutiva é aquela que, encabeçada por uma conjunção consecutiva, expressa a consequência (ou efeito) dentro de uma relação de causa e efeito. Em outras palavras, quando a conjunção subordinada se encontra na causa, a oração subordinada é adverbial causal; por outro lado, quando está na consequência, a subordinada é adverbial consecutiva. Mas em ambos os casos, indistintamente, teremos relações de causa e efeito, já que não existe causa sem efeito e vice-versa.

           

2º) Conjunções subordinadas consecutivas: que (precedido de um termo intensivo “tão, tal, tanto, tamanho”), de sorte que, de modo que, de forma que, de maneira que, a tal ponto que.

Veja os exemplos abaixo:

a) Ele só faz aquilo que a profissão o obriga, de sorte que é tomado como preguiçoso por toda a vizinhança.

                                                                                                            Consequência

b) A gerência permitiu-me livre acesso aos cofres, de maneira que apanhava dinheiro a hora que quisesse.

                                                                                                                   consequência

c) Saiu às pressas para o hospital, de tal modo que atropelou as pessoas sentadas próximas do carro.

                                                                                   Consequência

d) Tão bem escrito foi o relato do incidente que o diretor dispensou a perícia que encomendara.

                                                                                   Consequência

e) Ele tomou um desagrado tão grande da política que já não mais conseguia sequer ouvir um noticiário.

f) E tanto fiz, eu reconheço, que acabei influenciando na demissão do rapaz.

            Aqui, mais uma vez, fica patente o auxílio que nos dão as conjunções subordinadas consecutivas, pois com elas fica mais fácil identificar-se uma relação de causa e efeito.

3º) Verbos da área semântica de causa e efeito – são verbos que, quando usados, promovem relações de causa e efeito entre os termos / ideias. Podemos citar, dentre eles: causar, gerar, provocar, ocasionar, acarretar, produzir, desencadear, motivar, engendrar, suscitar, decorrer, derivar, provir, promanar, resultar.

Observe:

a) A rápida ação das polícias nos morros do Rio de Janeiro provocou uma diminuição, mesmo que momentânea, na violência.

  • A rápida ação das polícias nos morros do Rio de Janeiro = causa
  • Diminuição, mesmo que momentânea, da violência = efeito

b) A queda na Bolsa de Nova Iorque desencadeou uma corrida, aqui no Brasil, para a venda de papéis de companhias estrangeiras.

  • A queda na Bolsa de Nova Iorque = causa
  • Uma corrida aqui no Brasil para a venda de papéis de companhias estrangeiras = efeito

c) A interrupção de energia elétrica no Sudeste foi ocasionada pela queda de uma torre de transmissão localizada em São Bernardo do Campo.

         

  • A interrupção de energia elétrica no Sudeste = efeito
  • Queda de uma torre de transmissão = causa

 

4º) Palavras pertencentes à área semântica de causa e efeito – assim como os verbos, há palavras que promovem relações de causa e efeito. Podemos citar: motivo, razão, explicação, pretexto, mola, fonte, mãe, raiz, berço, base, fundamento, alicerce, germe, embrião, semente, gênese, produtor, causador.

           

Saliente-se: Tais palavras precisam ser analisadas de acordo com o contexto. A palavra “berço”, por exemplo, por si só nos remete ao local em que dorme ou em que nasceu um bebê. Ao contrário, se dissermos, “A concentração de renda, que teve início desde a colonização brasileira, foi o berço da profunda desigualdade social que hoje presenciamos”, a palavra “berço” passa-nos, pela análise de seu sentido figurado, a semântica de “causa, motivo”.

Outros exemplos:

a) O Senado Federal se debate com os problemas envolvendo o presidente da casa. O embrião de toda a crise foi a descoberta de notas ficais frias emitidas por uma das empresas do Senador Renan Calheiros.

Note:

O embrião = a causa = a descoberta de notas fiscais frias emitidas por uma das empresas...

b) Muitos nordestinos migraram para São Paulo nas décadas de 70 e de 80. As molas propulsoras de tal êxodo foram a seca e a falta de investimentos por parte de muitos governantes nordestinos.

Note:

As molas propulsoras = as causas = seca e falta de investimentos

5º) Algumas preposições e locuções: de, por, por causa de, em virtude de, devido a, em consequência de, por motivo de, por falta de etc.

Observe:

a) Por medo, não investiu todo o montante de que dispunha na bolsa de valores.

      causa

b) Na década de 90, muitas crianças ainda morriam de fome no Brasil.

                                                                                                  causa

c) Devido às más condições de tempo, cancelou a viagem.

            causa

d) A reunião não se realizou por falta de quorum.

                                                  causa

6º) Preposição “POR” seguida de um verbo no infinitivo:

Veja:

a) Por conhecer muito a região, aconselhou cautela para todos os escoteiros.

     Porque conhecia muito a região, ... = causa

b) Deixou o cargo de gerente por não mais aguentar as pressões de seus superiores.

                                                                       ...porque não mais aguentou as pressões de seus superiores. = causa

Observação: Estas orações são tecnicamente denominadas de “orações subordinadas adverbiais causais, reduzidas de infinitivo”.

 

7º) Orações causais ou consecutivas reduzidas

(Reduzir, para os que não lembram significa – pragmaticamente – tirar a conjunção e pôr o verbo da oração subordinada em uma forma nominal: infinitivo, gerúndio ou particípio).

Observe alguns exemplos:

a) Todo o grupo, animado pelos aplausos recebidos, resolveu cantar mais duas músicas. (Adverbial causal, reduzida de particípio).

b) Àquela época, era inexperiente a ponto de provocar confusões nos mais variados ambientes. (Adverbial consecutiva, reduzida de infinitivo).

c) Machucando o pé numa ponta de pedra, o atleta não pôde representar o Brasil no Pan. (Adverbial causal, reduzida de gerúndio).

            Ok!!?? Por certo, há outras formas de se perceberem as relações de causa e efeito. Mas paremos por aqui. Se leu até aqui, já deve estar farto de conteúdo.  Vamos à prática!

06..(FCC)  / De longe, alguém diria que estão beijando a terra /, / tal a devoção e o cuidado ao comer /.

Os segmentos indicados na frase se articulam, na ordem dada, como

(A) um fato e uma hipótese.

(B) uma condição e seu efeito.

(C) uma tese e sua antítese.

(D) uma particularização e uma generalização.

(E) uma consequência e sua causa.

                Resposta: Letra E. Perceba que não havia nas orações nenhuma conjunção que nos fornecesse alguma pista da relação estabelecida. É preciso, então, que o candidato pensasse um pouco e percebesse relação: “alguém diria que estão beijando a terra” por causa “da devoção e do cuidado ao comer”.

14..(FCC) As afirmativas que se articulam numa relação de consequência e de sua causa, respectivamente, são:

(A) ... são geralmente empregadas pejorativamente por só se enxergar nelas as limitações do meio pequeno.

(B) Há, é certo, um provincianismo detestável. Justamente o que namora a “Corte”.

(C) Esse sente as excelências da província. Não tem vergonha da província ...

(D) Formou-se em sociologia na Universidade de Colúmbia, viajou a Europa, parou em Oxford, vai dar breve um livrão sobre a formação da vida social brasileira ...

(E) Quando dirigiu um jornal lá, fez questão de lhe dar feitio e caráter bem provincianos.

Resposta: Letra A. Essa foi bem fácil, pois há uma pista infalível: a presença da preposição “POR” + verbo no “INFINITIVO” – “... por só se enxergar nelas as limitações do meio pequeno”.

09.(FCC) Penso hoje que a vocação dele era, de fato, o serviço público: sentia-se suficientemente recompensado pela responsabilidade que lhe cabia na tarefa de se fazer justiça na distribuição do produto social.

Na frase acima, não haverá prejuízo para o sentido, caso se substitua o sinal de dois pontos por uma vírgula, seguida da expressão

(A) a menos que se sentisse (...)

(B) uma vez que se sentia (...)

(C) muito embora se sentisse (...)

(D) a fim de se sentir (...)

(E) por mais que se sentisse (...)

Resposta: Letra B. Questão bastante interessante. Aqui, o examinador não questiona em qual alternativa se encontra uma relação de causa e efeito, mas o conhecimento sobre tais relações era essencial para a obtenção da resposta. Perceba que entre os segmentos  “Penso hoje que a vocação dele era, de fato, o serviço público” e “sentia-se suficientemente recompensado pela responsabilidade que lhe cabia na tarefa de se fazer justiça na distribuição do produto social”  há uma grande relação de causa e efeito. Leia assim: “Porque se sentia suficientemente recompensado pela responsabilidade que lhe cabia na tarefa de se fazer justiça na distribuição do produto social, eu penso hoje que a vocação dele era, de fato, o serviço público”. Logo, a única alternativa que contém um articulador de causa – uma vez que – é a letra B.

4.(FCC – Tec. Jud. 1ª Região) Representam causa e consequência, respectivamente, os seguintes segmentos:

(A) O centro divulgou uma pesquisa / feita com budistas tibetanos e monges franciscanos.

(B) As pessoas sentem-se mais relaxadas, / tão logo se entregam à meditação.

(C) A meditação é incluída como atividade / em tratamentos de doenças graves.

(D) Ao se praticar a meditação, / intensifica-se a ação de neurotransmissores.

(E) Os riscos dos remédios antidepressivos / podem ser evitados pela prática da meditação.

            Resposta: Letra D. Esta aqui foi uma das últimas questões que tratou do nosso assunto. Perceba que o examinador buscava os segmentos que “representavam” – respectivamente – uma “causa” e uma “consequência”. A resposta contém uma oração subordinada adverbial temporal – Ao se praticar a meditação – e uma oração principal – intensifica-se a ação de neurotransmissores. Entretanto, a relação entre elas é, indubitavelmente, de causa e efeito. Observe: Quando se pratica a meditação (causa), intensifica-se a ação de neurotransmissores (efeito ou consequência). Em outras palavras: Intensifica-se a ação de neurotransmissores pela prática da meditação. Cuidado,pois nessa questão há uma pegadinha: a letra B. Nela há também uma relação de causa e efeito. Mas a questão exige uma “causa” e uma “consequência” RESPECTIVAMENTE. Na letra B, temos uma consequência (as pessoas sentem-se mais relaxadas) e uma causa (tão logo se entregam à meditação).

            E finalmente, vamos à segunda questão da prova para o TRF da 2ª região.

2.(FCC – Analista Jud. TRF 2R) No contexto, a frase do primeiro parágrafo que expressa uma causa é:

(A) (linhas 13 a 16) impressionados pelo extraordinário  progresso alcançado no campo das ciências exatas, com a produção de certeza e previsibilidade no conhecimento dos dados da natureza.

(B) (linhas 3 a 6) os princípios éticos distinguem-se nitidamente não só das regras do raciocínio matemático, mas também das leis naturais ou biológicas.

(C) (linhas 7 a 9) a vida ética não pode ser interpretada segundo o método geométrico (ordine geométrico demonstrata).

(D) (linhas 9 a 11) As normas éticas tampouco podem ser reduzidas a enunciados científicos, fundados na observação e na experimentação.

(E) (linha 2 e 3) e não simples ideais de vida, ou premissas doutrinárias.

            Resposta: Letra A. Questão perigosa, mas fácil. Digo perigosa, porque o candidato precisava ir ao texto para conferir a existência da relação. A alternativa da letra A contém o que se chama tecnicamente de “oração subordinada adverbial causal, reduzida de particípio”. Observando e organizando o período de que ela faz parte temos:

Período original:

Durante boa parte do século XIX, alguns pensadores, impressionados pelo extraordinário progresso alcançado no campo das ciências exatas, com a produção de certeza e previsibilidade no conhecimento dos dados da natureza, sucumbiram à tentação de explicar a vida humana segundo parâmetros deterministas.

Período na ordem direta:

Durante boa parte do século XIX, alguns pensadores sucumbiram à tentação de explicar a vida humana segundo parâmetros deterministas porque estavam impressionados pelo extraordinário progresso alcançado no campo das ciências exatas, com a produção de certeza e previsibilidade no conhecimento dos dados da natureza.

            Entendeu???

           Espero que sim!!!

            Eita, que este artigo ficou um monstro!! Sugiro que vá descansar um pouco a vista.

            Para os nossos cursos, acesse www.cers.com.br

            Um grande abraço.

            Professor Rodrigo Bezerra

            Soli Deo Gloria.

 

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