Funções morfossintáticas do vocábulo QUE

Funções morfológicas e sintáticas da palavra QUE.

Funções morfológicas das palavras “QUE”

Eis aqui um assunto de fundamental importância, pois as bancas com muita frequência cobram este conhecimento. Aqui não trataremos da função sintática desses vocábulos, mas tão somente da função morfológica que desempenham numa determinada estrutura.

Sugiro que estude este ponto mais de uma vez. Preferencialmente, faça-o em dias diferentes para que o conhecimento se consolide mais. Se tiver dificuldades, consulte o seu professor. Vamos lá...

Funções morfológicas para palavra “QUE”

Sem dúvida, o vocábulo “QUE” é um dos mais versáteis da nossa língua, porquanto apresenta várias funções. Vejamos...

1. Substantivo à quando vem determinada por artigos ou outras classes de palavras, ou quando equivale a “qualquer coisa de”. Neste caso, equivalerá a um monossílabo tônico, fato que exigirá o acento circunflexo.

  • Ela hoje tem um quê de esquisito.
  • Aquele quê foi mal empregado.
  • Um quê de mistério cercava o ambiente.
  • Pairava no ar um quê de tristeza.
  • “Os quês tornam o estilo áspero e desagradável.” (Silveira Bueno)

2. Pronome indefinido à quando, vindo antes de substantivos, equivale a “quanto, quanta, quantos, quantas”. Por acompanhar substantivos, é também chamado genericamente de “pronome adjetivo”.

  • Que felicidade tremenda sentia no peito o nosso personagem.
  • Que saudade eu tenho da minha infância!
  • Que gente será? em si diziam:
  • Que costumes, que lei, que rei teriam?” (Camões)

3. Pronome relativo à quando for possível ser substituído por “o qual, a qual, os quais, as quais”. Neste caso, o “que” apresentará um antecedente o qual retomará.

  • Todos leram o livro que tu escreveste.
  • A casa em que ele mora fica perto de uma área de risco.

Observação:

Para aprofundar esta função morfológica, sugerimos que estude as orações adjetivas, em sintaxe do período composto.

 

4. Pronome interrogativo à quando aparece em orações interrogativas. Geralmente, nesta função, equivale a “que coisa”.

  • Que disseste naquele momento de raiva?
  • Que pretendia? A que vinha ali como um salteador noturno?” (A. Herculano)

5. Advérbio de intensidade à Quando, vindo antes de adjetivos ou advérbios, equivale a “quão, quanto”.

  • Que bela flor ele te deixou!
  • Que admiráveis são os desígnios de Deus.
  • Que perto moras da escola.

6. Preposição à quando equivale a “de” ou “para”.

  • Temos que cumprir o nosso dever.
  • Ainda há muito que fazer para levantar a casa.

7. Interjeição à Quando revela admiração, espanto, surpresa e equivale a “oh!”. Nesta função, é sempre exclamativo e acentuado.

  • Quê! Ainda estás aí?
  • Quê! Já são dez horas da noite!

8. Partícula expletiva ou de realce à É empregado para dar ênfase ou realce à estrutura oracional. Geralmente aparece sob a forma “é que”. Pode ser retirado da oração sem prejuízo sintático nem semântico.

  • “Bravo! que linda que está a senhora D. Lenita!” (Júlio Ribeiro)
  • “O padre atirou, mas parece que desta vez que errou o tiro.” (Mário Barreto)
  • “Que teimoso que ele é.” (José de Alencar)
  • Que me restituam os meus oficiais e obreiros portugueses...” (A. Herculano)

Observações:

a) O “que” expletivo geralmente vem acompanhado pelo verbo “ser”, formando a expressão “é que”, cujo objetivo é pôr em relevo um ou mais termos da enunciação. Veja alguns exemplos:

  • “– Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (Machado de Assis)
  • “Feliz e esperto era o João Romão! esse, sim, senhor! Para esse é que havia de ser a vida!...” (Aluísio Azevedo)

b) Em algumas construções, o sujeito se coloca entre o “é” e o “que”. Nesse caso, o verbo “ser” concordará com esse sujeito. Acompanhe o raciocínio:

  • Os gandulas repunham a bola rapidamente. à (Frase sem ênfase)
  • Os gandulas é que repunham a bola rapidamente. à (Frase com ênfase para o sujeito)

        O verbo “ser” concorda com o sujeito

  • Eram os gandulas que repunham a bola rapidamente. à (Frase com a partição da expressão “é que”)
  • “As rosas é que são belas,
  • Os espinhos é que picam;
  • Mas são as rosas que caem,
  • São os espinhos que ficam.” (Canção popular)

c) Se entre o verbo “ser” e o “que” se interpuser um termo introduzido por uma preposição, a expressão expletiva “é que” permanecerá invariável. Observe:

  • É neles que você encontra o carinho necessário à sua sobrevivência emocional.
  • É pelas ideias defendidas pela ministra que o povo votará nela.

9. Conjunção subordinativa à quando funciona como elemento conectivo entre uma oração principal e uma oração subordinada. Podem ser:

a) Conjunção subordinativa integrante à liga as orações substantivas às suas respectivas orações principais.

  • “Custa-me dizer que saí de lá encantado.” (Machado de Assis)
  • “Há poucas esperanças de que venham tão cedo a admitir a paz.” (Pe. Antônio Vieira)
  • Era imprescindível que ele se mantivesse calado naquela ocasião.

b) Conjunção subordinativa causal à empregada com o sentido de “porque, porquanto, já que”.

  • Velho que ele era, evitava grandes emoções.
  • Ceamos à lareira que a noite estava fria.

c) Conjunção subordinativa concessiva à empregada com o sentido de “ainda que, mesmo que”.

  • Verdadeira que fossem tuas palavras, ninguém lhes dará crédito.
  • Teus ensinamentos, que sejam profundos e arraigados na história, não foram suficientes para aprovar o aluno no exame.

d)  Conjunção subordinativa consecutiva à empregada com o sentido de “sem que, tal que, tanto que, de tal modo que” etc.

  • Não vai a uma praia que não tome uma cerveja.
  • Falou que ficou rouco.

e) Conjunção subordinativa final (emprego raro hoje em dia) à empregada com o sentido de “para que, a fim de que”.

  • “Deitou-vos Deus a bênção que crescêsseis e multiplicásseis.” (Pe. Antônio Vieira)
  • Fez-lhe sinal que se calasse.
  • Andei devagar, que não me ouvissem os passos.

f) Conjunção subordinativa temporal à empregada com o sentido de “logo que, desde que”.

  • Chegados que fomos, todos ficaram em pé e nos aplaudiram freneticamente.
  • “Porém já cinco sóis eram passados que dali nos partíramos.” (Camões)

g) Conjunção subordinativa comparativa à seguida ou não de “nem” e empregada em estruturas de comparação de analogia – algumas vezes com o sentido de “como”.

  • Ensinas melhor que um mestre.
  • A caridade é mais bela que a fé.
  • Ele fala que nem papagaio.       
  • “E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.” (Aluísio Azevedo)

10. Conjunção coordenativa à Quando introduz orações sindéticas em um período coordenado. Podem ser:

a) Conjunção coordenativa aditiva à empregada com o sentido de “e”.

  • Rezava que rezava, mas as assombrações não o deixavam.
  • Estuda que estuda, e não consegue aprovação.

b) Conjunção coordenativa adversativa à seguida de “não” e empregada com o sentido de “mas”.

  • Outra pessoa, que não eu, falará sobre o assunto.
  • “De outras ovelhas cuidarei, que não de vós.” (A. Garrett)

c) Conjunção coordenativa explicativa à Quando revela uma explicação, uma justificação para a oração assindética anteposta.

  • Não chores, que fico triste.
  • Abandone esse vício, que ele poderá levá-lo à morte.

Fonte: Nova Gramática da Língua Portuguesa para Concursos (10a edição)